
Conforme
AQUI dissemos, a
Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto, da
Figueira da Foz, associando-se às
Comemorações do Centenário da Implantação da República, teve ensejo de organizar uma conferência sobre o título "
Razão e Razões do Republicanismo Português".
Com uma assistência muito estimada, e que emoldurou todo o
Salão Nobre da vetusta
Associação Figueirense, que serviu de anfitriã, os palestrantes - dr.
Amadeu Carvalho Homem e o dr.
António Reis - destacaram os aspectos mais relevantes da experiência republicana da I República e o seu património actual. Da intervenção do dr.
Carvalho Homem saliente-se a ideia de República como o "
aprofundamento da democracia nas suas diversas vertentes". Esse "grande veredicto" da restauração de
valores - como a "
democraticidade", o "
sufrágio universal" (ou
cidadania plena versus monarquia censitária) -, esse
património construído justamente no plano dos valores, tais como as leis da família, o divórcio, o ensino público,
não pode ser confundido (
axiologicamente) com o plano das realidades, como alguma corrente historicista hoje publicita.
O dr.
António Reis, recuperando a ideia anterior, considera que há hoje, de facto, uma corrente de revisão histórica (deturpada) do que foi (é) a República, assumindo que qualquer apologia ou diabolização,
tout court, não se compadece com, o que denomina, os
princípios do ideal republicano, que corporiza em: submissão do interesse pessoal ou público; igualdade de direitos perante a lei; supremacia do parlamento na organização do Estado; limitação de mandatos, a par da responsabilização penal dos detentores de cargos públicos.
Seguidamente,
António Reis, partiu para alavancar as
virtudes (ou conquistas) do ideário republicano, a saber: prática da cidadania participativa, estado laico, leis da família e do registo civil, lei da greve, instrução pública (universidade livre, popular), novo ambiente cultural com a presença de várias correntes estéticas e filosóficas. Por fim, registou, nesse deve/haver da construção republicana, alguns dos
erros ou perplexidades havidas, em torno do sufrágio universal ("lacuna da primeira república" e que não foi cumprido), incapacidade do pleno funcionamento do parlamento, o presumido erro da participação de Portugal na I Guerra (e que o sidonismo será a sua eventual consequência), os excessos cometidos à "
sombra" do laicismo e a ausência de uma politica económica e social clara e eficaz que fosse ao encontro dos ensejos e revindicações do operariado e demais classes sociais (que só os governos entre 1923-25, o tentaram).
A conferência decorreu, depois, á luz das notas propostas pelos dois convidados, tendo a assistência prolongado a sessão com um conjunto de questões, bem curiosas, sobre todas essas matérias e que mereceram a atenção
cuidada dos conferencistas.
Está, pois, de parabéns a
Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto, da
Figueira da Foz, pelo excelente préstimo que proporcionou ao vasto auditório, pela relevância dos seus convidados e pelo magnífico espaço de debate que se obteve.
J.M.M.
via Almanaque Republicano.