terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

CONFERÊNCIA "RAZÃO E RAZÕES DO REPUBLICANISMO PORTUGUÊS"


Conforme AQUI dissemos, a Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto, da Figueira da Foz, associando-se às Comemorações do Centenário da Implantação da República, teve ensejo de organizar uma conferência sobre o título "Razão e Razões do Republicanismo Português".

Com uma assistência muito estimada, e que emoldurou todo o Salão Nobre da vetusta Associação Figueirense, que serviu de anfitriã, os palestrantes - dr. Amadeu Carvalho Homem e o dr. António Reis - destacaram os aspectos mais relevantes da experiência republicana da I República e o seu património actual. Da intervenção do dr. Carvalho Homem saliente-se a ideia de República como o "aprofundamento da democracia nas suas diversas vertentes". Esse "grande veredicto" da restauração de valores - como a "democraticidade", o "sufrágio universal" (ou cidadania plena versus monarquia censitária) -, esse património construído justamente no plano dos valores, tais como as leis da família, o divórcio, o ensino público, não pode ser confundido (axiologicamente) com o plano das realidades, como alguma corrente historicista hoje publicita.

O dr. António Reis, recuperando a ideia anterior, considera que há hoje, de facto, uma corrente de revisão histórica (deturpada) do que foi (é) a República, assumindo que qualquer apologia ou diabolização, tout court, não se compadece com, o que denomina, os princípios do ideal republicano, que corporiza em: submissão do interesse pessoal ou público; igualdade de direitos perante a lei; supremacia do parlamento na organização do Estado; limitação de mandatos, a par da responsabilização penal dos detentores de cargos públicos.

Seguidamente, António Reis, partiu para alavancar as virtudes (ou conquistas) do ideário republicano, a saber: prática da cidadania participativa, estado laico, leis da família e do registo civil, lei da greve, instrução pública (universidade livre, popular), novo ambiente cultural com a presença de várias correntes estéticas e filosóficas. Por fim, registou, nesse deve/haver da construção republicana, alguns dos erros ou perplexidades havidas, em torno do sufrágio universal ("lacuna da primeira república" e que não foi cumprido), incapacidade do pleno funcionamento do parlamento, o presumido erro da participação de Portugal na I Guerra (e que o sidonismo será a sua eventual consequência), os excessos cometidos à "sombra" do laicismo e a ausência de uma politica económica e social clara e eficaz que fosse ao encontro dos ensejos e revindicações do operariado e demais classes sociais (que só os governos entre 1923-25, o tentaram).

A conferência decorreu, depois, á luz das notas propostas pelos dois convidados, tendo a assistência prolongado a sessão com um conjunto de questões, bem curiosas, sobre todas essas matérias e que mereceram a atenção cuidada dos conferencistas.

Está, pois, de parabéns a Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto, da Figueira da Foz, pelo excelente préstimo que proporcionou ao vasto auditório, pela relevância dos seus convidados e pelo magnífico espaço de debate que se obteve.

J.M.M.

via Almanaque Republicano.

1 comentário:

Carlos Esperança disse...

Comemorar a República é festejar a passagem de vassalos a cidadãos.